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A toxoplasmose é uma zoonose (doença transmitida dos animais aos homens) causada por um protozoário chamado Toxoplasma gondii. A infecção por toxoplasmose durante o período de gestação pode causar aborto, má formação, sequelas neurológicas e problemas oculares no feto.

Infelizmente, não é tão comum na rotina médica privada o atendimento de zoonoses, prevalecendo ainda nos dias atuais  um pensamento equivocado entre alguns profissionais  de  que a toxoplasmose é a “doença do gato” sobretudo para mulheres gestantes. Através do tempo essa crendice popular foi multiplicada por  grande parte das pessoas  que não absorveram ou tiveram acesso às informações corretas.  Desta maneira, nós médicos veterinários,  lutamos diariamente na clínica para derrubar o tal mito de que o gato é o grande vilão da toxoplasmose e portanto, queremos mostrar à população como realmente acontece a transmissão.

Realmente, não há dúvidas, o T. Gondii  é um protozoário que tem seu ciclo de vida em diversos carnívoros, mas somente no felino ele é capaz de completá-lo e infestar o meio ambiente. Mas há um caminho longo e cheio de barreiras para que uma pessoa adquira a doença diretamente do gato.

Em primeiro lugar,  não são todos os felinos que tem predisposição para serem acometidos pela doença, mas somente aqueles que ingerem carne crua ou mal assada ou que são “caçadores” e comem passarinhos, roedores, baratas e etc. Para que ocorra transmissão para o gato, é necessário que  este coma a carne que contenha os cistos do toxoplasma e se torne infectado.  O parasita consequentemente é passado pelas fezes do gato na forma de oocisto, que é microscópico e então, poderá ser ingerido acidentalmente por um ser humano. Em sua maioria, animais que tem acesso às ruas e que estão com seu sistema imunológico comprometido são os mais vulneráveis. A infecção no felino é via de regra, subclínica.

Estima-se que apenas 1%  da população felina abrigue o protozoário.

Em segundo lugar,  se o gato estiver contaminado,  ele só elimina o parasito nas fezes durante aproximadamente 15 dias e apenas uma vez em toda a sua vida. Geralmente esta eliminação ocorre em média 10 dias após ter se infectado.

Em terceiro lugar, para ocorrer a contaminação de pessoas a partir das fezes do gato, é necessário que estas fezes fiquem no ambiente por, no mínimo 48 horas, preferencialmente sob a incidência de luz solar para que ocorra a esporulação do oocisto e que depois sejam literalmente ingeridas,  caso contrário o ciclo não se completa!

Os gatos possuem o hábito de limpar-se, não deixando restos de fezes na pelagem, e enterram seus excrementos. Porém, mesmo que não se limpem,  já há estudos mostrando que não há viabilidade de infecção caso hajam fezes grudadas no pelo do animal. A possibilidade de contaminação do tutor do gato pelo próprio felino é mínima ou inexistente.

Acariciar um gato e tê-lo como animal de companhia não representa perigo. Mordidas ou arranhões do gato também não transmitem toxoplasmose. O mais comum é que a doença seja adquirida via ingestão de carnes mal cozidas, e também pela ingestão de verduras e legumes mal  lavados e falta de higienização das mãos após o manuseio com terra como por exemplo na atividade de jardinagem.

Existem estudos que revelam  um alto índice de toxoplasmose em populações que  consomem elevadas quantidades de embutidos (leia-se sem cozimento), e também pela ingestão  de carne suína mal cozida com grande frequência.

Sendo assim, somente pessoas imunodeficientes (desordem do sistema imunológico que incapacita de se estabelecer uma imunidade efetiva) ou as mulheres grávidas que nunca tiveram  contato com o parasito (leia-se sem formação de anticorpos) formam o grupo de risco mais preocupante. Se fizermos sorologia numa determinada população, a maioria será reagente para toxoplasmose, não pelo fato de terem a  doença, mas sim porque, em algum momento da vida, houve contato com o cisto do parasito  e o corpo produziu anticorpos, e estes anticorpos permanecem para o resto da vida.

Portanto que fique bem claro, acariciar, abraçar e dormir com gatos NÃO LEVA À TRANSMISSÃO DA TOXOPLASMOSE!

A prevenção da toxoplasmose se dá com boas práticas de higiene, tais como limpar a caixa de areia dos felinos diariamente, assim os “ovos” são retirados antes de se tornarem contaminantes e essa tarefa deve ser evitada por gestantes ou se elas forem realiza-la que  utilizem luvas e posteriormente lavem bem as mãos. Não ingerir alimentos crus ou mal-cozidos sem prévio congelamento por 48 horas, lavar bem as frutas e verduras, não ingerir leite in natura e embutidos não fiscalizados, beber água de boa qualidade, limpar cuidadosamente qualquer material como facas e utensílios  que entre em contato com carnes cruas, e fazer uso de luvas ao realizar jardinagem.

Além disso evite que seu gato tenha acesso às ruas,  o gato que fica dentro de casa, ou seja domiciliado, sem o hábito de caçar, pode não estar infectado com a toxoplasmose, sobretudo aqueles que não se alimentam de  carne crua, vísceras e/ou ossos. Realizar controle de insetos que podem agir como vetores mecânicos como por exemplo as baratas, também é importante. Enfim, logicamente o animal deve ser também vacinado, vermifugado,  castrado e examinado regularmente por um médico veterinário para que se evite qualquer doença. EM CASO DE DÚVIDAS, um exame simples de sangue  é suficiente para eliminá-las, FAÇA UMA SOROLOGIA  sua e do seu felino,  para toxoplasmose!  E  NUNCA ABANDONE SEU ANIMAL DE ESTIMAÇÃO!

O convívio com  animais é muito benéfico para nós em todas as fases da vida. De forma segura e saudável, essa relação nos proporcionará momentos de felicidade e bem estar,  portanto não há necessidade alguma de se privar do convívio com os gatos durante a gravidez.